Hérnia Inguinal: esteja atento aos sinais

Quotidiano
Última atualização: 13/07/2022
  • A hérnia inguinal resulta de uma fragilidade nos músculos abdominais, permitindo a passagem de tecidos moles.
  • Os homens são mais afetados por este problema, principalmente devido às diferenças anatómicas entre os dois géneros.
  • São vários os sinais de alarme, nomeadamente uma saliência em um ou em ambos os lados da virilha, que deve suscitar uma consulta médica.
  • Após o diagnóstico médico, a cirurgia é o método indicado para tratar uma hérnia inguinal.
  • As recidivas podem acontecer, mas são residuais.
hérnia inguinal e exercício

São os homens os mais atingidos pela hérnia inguinal, embora sem exclusividade. A dor é o principal sintoma, mas não é fator obrigatório desta condição que está associada a uma deficiente formação de colagénio.

Uma protuberância na zona das virilhas e dor, mas nem sempre. É assim que se manifesta a hérnia inguinal, uma condição médica que acontece quando há uma fragilidade nos músculos abdominais, permitindo a passagem de tecidos moles. Por oposição a outros tecidos do corpo humano, como os ossos e a cartilagem, estes tecidos são constituídos essencialmente por elastina e colagénio, o que explica a sua flexibilidade. Devido à pressão sobre a parede abdominal, forma-se uma bolsa saliente no baixo-ventre, em um ou nos dois lados, visível a olho nu, e cuja dimensão depende da quantidade de tecido que existe no saco herniário.

Homens sofrem mais

Em Portugal, os homens são mais afetados por este problema, numa proporção de três casos no sexo masculino para um no sexo feminino, como refere Paulo Martins, cirurgião-geral.

Mas, a predominância masculina tem uma explicação: “A diferença deve-se à conformidade anatómica da bacia do homem, nomeadamente ao facto de o canal inguinal, ao longo do qual desce o cordão espermático, ser uma estrutura mais volumosa do que na mulher. A anatomia da mulher protege-a, na medida em que esse canal é quase vestigial”, explica o especialista.

Diferenças anatómicas

A origem desta diferença remonta à gestação. No feto masculino, após a formação no interior do abdómen, os testículos deslocam-se ao longo do canal inguinal até ao escroto, o saco que os vai envolver. Este canal fecha-se quase por completo após o nascimento, permanecendo apenas uma abertura mínima para a passagem do cordão espermático, isto é, a estrutura que alberga os vasos deferentes através dos quais circula o esperma. Se o canal inguinal não fechar adequadamente, fica vulnerável, podendo desenvolver-se uma hérnia. Este é um processo que não acontece no feto feminino, havendo menos probabilidade de o canal inguinal não encerrar por completo após o nascimento.

Mas há outras razões para a hérnia inguinal se declarar sobretudo no género masculino. Entre elas o facto do homem ter, em regra, uma atividade física mais intensa do que a mulher, o que aumenta as forças de pressão sobre tecidos e músculos. Ora, havendo uma fragilidade subjacente, cresce a probabilidade de desenvolvimento de uma hérnia.

“A teoria mais aceite quanto às causas da hérnia inguinal aponta para uma deficiente formação de colagénio. O colagénio é a base da resistência dos tecidos, aquilo a que se chama fibra”, adianta Paulo Martins. Logo, “um tecido frágil mais facilmente cede se for sujeito a pressão sistemática”, acrescenta o cirurgião.

Sinais de alarme

O que está em causa é, portanto, uma relação de fragilidade-esforço. E é precisamente muitas vezes na sequência de um esforço – muitas vezes associado à prática de exercício físico sem acompanhamento - que surgem as primeiras manifestações e as primeiras suspeitas de uma hérnia inguinal. “O primeiro sinal, às vezes, é uma dor na zona da virilha, sobretudo depois de um esforço muito violento. Mas também pode haver apenas desconforto, isto é, a dor pode ser insidiosa”, concretiza o especialista.

Uma saliência em um ou em ambos os lados da virilha, junto ao osso púbico, é outra das manifestações, podendo tornar-se visível tanto após um esforço intenso, como pela simples contração abdominal desencadeada pela tosse, por espirros ou pelo ato de esvaziar a bexiga ou os intestinos.

Numa pessoa magra, essa saliência fica logo aparente; numa de peso normal, também se nota com facilidade. Já o mesmo não acontece numa pessoa com excesso de peso ou obesa, facto que em situações de ausência de dor pode conduzir a um diagnóstico e tratamento tardios.

Quando procurar o médico

A existência dessa protuberância na pele deve suscitar uma consulta médica. “A pessoa deve procurar o médico, mesmo sem dor”, aconselha Paulo Martins. Em si mesmas as hérnias não são perigosas, mas existe um risco associado: com o passar do tempo a fraqueza da parede abdominal pode aumentar e, com isso, a hérnia. A consequência pode ser o estrangulamento de uma parcela do intestino ou mesmo da bexiga, com risco de vida. É que se o intestino ou a bexiga ficarem presos na hérnia “há compromisso da viabilidade” do órgão devido ao corte no fluxo sanguíneo. Nas situações mais graves, o estrangulamento pode causar necrose, com a morte dos tecidos a poder desencadear uma infeção na cavidade abdominal, o que configura uma situação de emergência.

Como é feito o diagnóstico

Em geral, segundo a experiência do cirurgião, basta um exame físico para se chegar ao diagnóstico, com recurso à observação e à palpação, não sendo necessários meios auxiliares. Em caso de dúvida, pode ser solicitada uma ecografia das partes moles inguinais para despiste de outras situações como a pubalgia, uma inflamação na mesma região do organismo.

Cirurgia é o melhor remédio

Feito o diagnóstico, a cirurgia é o método indicado para tratar uma hérnia inguinal. Há exceções, precisa Paulo Martins: “São situações em que o risco da intervenção cirúrgica é superior ao benefício da operação, dado que envolve anestesia, seja ela geral ou não. É o caso de doentes cardiovasculares ou respiratórios graves, mas também de pessoas muito idosas ou muito debilitadas.” Nestes casos, a opção recai sobre a colocação de fundas de contenção, isto é, de um dispositivo externo que exerce compressão sobre a hérnia.

No que respeita à cirurgia, são duas as abordagens possíveis: a tradicional e a laparoscópica. O objetivo é o mesmo: reparar a hérnia, com a diferença de que, no primeiro caso, o procedimento é mais invasivo dada a necessidade de uma incisão na região inguinal.

A cirurgia pode envolver apenas a recolocação do intestino na cavidade abdominal e encerramento da parede muscular, mas na maior parte das vezes implica a colocação de uma prótese, que ao mesmo tempo que restitui a integridade da estrutura anatómica, impede a profusão do conteúdo abdominal.

Indicações da laparoscopia

Ainda que ambas as abordagens cirúrgicas visem reparar a hérnia, há situações em que o procedimento laparoscópico é particularmente indicado. “A laparoscopia tem recomendação sobretudo quando há recidiva da hérnia ou quando a hérnia existe dos dois lados”, precisa o cirurgião.

Na laparoscopia, especialidade de Paulo Martins, fazem-se duas incisões mínimas junto ao umbigo: através de uma delas introduz-se o laparoscópio, tubo equipado com uma câmara e que “guia” o cirurgião. Através da outra são introduzidos os equipamentos que permitem a reparação da hérnia.

Esta cirurgia faz-se em ambulatório, com recurso a raquianestesia, tendo igualmente a vantagem de proporcionar uma recuperação biomecânica mais rápida – ao fim de três a quatro dias o doente já não tem grandes limitações. Quando a abordagem cirúrgica é a tradicional, podem ser necessários 10 a 15 dias de recuperação: a incisão é maior, pelo que o incómodo é também maior.

Recidivas são raras

As recidivas podem acontecer, mas são residuais: apenas um a cinco por cento dos casos, e muitas vezes decorrem de cirurgias realizadas há muito tempo ainda com recurso a técnicas antigas. “Desde que se começaram a aplicar próteses, a probabilidade de a hérnia reaparecer baixou bastante”, assegura o especialista.

O aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas tem permitido melhorar significativamente a vida dos doentes, quer por implicar uma menor hospitalização (a cirurgia é quase sempre feita em ambulatório –, quer por possibilitar uma recuperação mais rápida), quer ainda por reduzir a probabilidade de uma recidiva.

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