O despertar da adolescência

Quotidiano
Última atualização: 23/08/2022
  • A adolescência é uma fase de vida única, que acontece entre os 10 e os 18 anos.
  • Várias alterações físicas marcam o início da adolescência e precedem as alterações cognitivas e psicossociais típicas deste período.
  • É comum e perfeitamente normal que nesta altura o adolescente esteja mais atento à sua sexualidade e focado na sua aparência e em estabelecer relacionamentos.
  • As alterações psicológicas a que os adolescentes estão sujeitos alteram de forma decisiva a maneira como este pensa e vê o mundo.
  • Existem alguns comportamentos de risco que um adolescente pode tomar e a que é necessário estar atento.

Após a infância, surgem várias alterações físicas e psicológicas que podem deixar os nossos filhos mais distantes, “fechados” e menos predispostos junto da família. A chamada “idade do armário” é uma expressão sem fundamento científico mas que resume de forma clara os receios dos pais com a chegada da adolescência.

Aquela que pode ser considerada a fase mais rica da vida está marcada por profundos desafios para os filhos e para os pais. Estar informado sobre as alterações fisiológicas, cognitivas e psicossociais que podem surgir é fundamental para garantir que os laços saem fortalecidos desta prova de fogo e que as portas permanecem abertas ao diálogo.

Ao longo de todo o processo, é importante que os pais tenham em mente que a adolescência é um período único do desenvolvimento de cada um, e que as alterações por que o adolescente está a passar definem a maneira como sentem, pensam, tomam decisões e interagem com o mundo à sua volta.

Quando começa a adolescência?

A resposta a esta questão não é fácil, explica Hugo de Castro Faria, pediatra especializado em Medicina do Adolescente: “Parece-me que atualmente a definição mais aceite é a de que corresponde ao período entre os 10 e os 18 anos e, para alguns autores, até aos 21 anos, sendo dividida em três fases: adolescência precoce ou pré-adolescência (entre os 10 e os 13 anos), adolescência média (entre os 14 e os 16 anos) e tardia, acima dos 17 anos”. A maturidade biológica antecede a psicológica, por isso os primeiros sinais da adolescência surgem no corpo e só mais tarde no comportamento. 

O que muda?

Quase tudo muda quando se entre na adolescência e à medida que esta progride. A entrada na puberdade corresponde a um crescimento significativo, não só em estatura (em geral, mais cedo no sexo feminino) como a vários níveis do organismo – aumento das células e ligações cerebrais ou formação da massa óssea – e ao desenvolvimento dos carateres sexuais secundários.

Pilosidade, alterações na massa muscular e na massa gorda são as transformações mais visíveis, mas existem outras como a acne ou transpiração, associadas às mudanças hormonais.

“No rapaz, há um aumento significativo da massa muscular, desenvolvimento de pelos com a distribuição típica do homem adulto e aumento do pénis e testículos, bem como alterações do aparelho reprodutor. Na rapariga, ocorre desenvolvimento da mama, desenvolvimento muscular (não tão marcado como no rapaz), desenvolvimento de pelos com a distribuição típica da mulher adulta, alteração da distribuição da gordura corporal para uma distribuição típica da mulher e desenvolvimento do aparelho reprodutor (assinalado pelo início do ciclo menstrual)”, explica o pediatra.

É preciso falar de sexualidade

A transformação que se dá nesta fase interfere muito na forma como o adolescente se vê (e vê os outros) e há um tema em particular que ganha relevância: a sexualidade. “As alterações morfológicas da puberdade despertam habitualmente uma curiosidade progressiva no adolescente. Ao longo das primeiras manifestações da puberdade nota-se um crescente interesse pelo corpo, que desencadeiam comportamentos exploratórios e uma preocupação crescente com a autoimagem. Após esta fase exploratória inicial, inicia-se o interesse e curiosidade por outras pessoas, seguido das primeiras experiências e interações sexuais”, explica Hugo de Castro Faria.

Estas etapas fazem parte do desenvolvimento da identidade sexual, “um processo de grande importância”, mas que pode gerar crises e múltiplas problemáticas, tanto no seio familiar, como entre amigos e colegas ou até professores e outros adultos. A falta de diálogo entre pais e filhos é “um erro frequente e potencialmente grave”, como alerta o médico. Como pai de um adolescente, é importante ter em conta que estas alterações são normais e que o nosso filho precisa essencialmente de apoio, compreensão (e por vezes, espaço) – mais do que dúvidas ou comparações. A fase da adolescência é passageira, como todas até aqui, e irá definir várias vertentes da vida do adulto que se está a formar.

Na mente de um adolescente

Na opinião de Hugo de Castro Faria, “provavelmente as mais importantes mudanças que ocorrem nos adolescentes são do foro psicossocial”. Manifestam-se a três níveis – identidade, autonomia e pensamento abstrato – e compreendê-los “é fundamental para interpretar os momentos de crise dos adolescentes”, defende o pediatra.

A referência deixa de ser apenas a família e o leque de contactos sociais alarga-se, bem como as influências. A busca de autonomia prepara a transição para a idade adulta, mas nem sempre é fácil.

“Não é raro encontrarmos dificuldades e disfunções, seja por resistência dos pais em perder o controlo da vida dos filhos, seja pela impaciência do jovem que encara o processo da autonomia como algo lento. Numa fase tardia da adolescência há uma redução da importância do grupo de pares, surgem as primeiras relações a dois e uma certa ‘pacificação’ da relação com os pais”, comenta o pediatra. Quanto ao pensamento abstrato, competência vital na idade adulta, a evolução vai sendo gradual ao longo da adolescência.

Comportamentos de risco

Na busca da identidade e independência, o adolescente tenta traçar o seu caminho. “Este processo implica muitas vezes comportamentos exploratórios e de experimentação”, observa o pediatra, e deve ser acompanhado pelos pais, “procurando minimizar o risco de comportamentos perigosos e que possam colocar em risco a vida, a saúde e a segurança.” De acordo com a sua experiência, é frequente ver em consulta “perturbações depressivas, comportamentos suicidários e de automutilação, perturbações de ansiedadeperturbações do comportamento alimentar, a problemática dos hábitos de consumo, da violência e bullying e comportamentos de risco (sexual, consumos, na estrada, entre outros).

O período da adolescência é decisivo em muitos aspetos, e é nesta idade que muitas pessoas iniciam hábitos que podem prejudicar a sua saúde para o resto da vida. A Organização Mundial de Saúde tem alertado para o início precoce do uso de substâncias, que além de ter efeitos mais graves em jovens, aumenta o risco de desenvolver dependência e outros problemas na idade adulta.

Podemos encontrar situações problemáticas durante a adolescência em ambos os sexos, contudo “são mais frequentes nas raparigas as perturbações do comportamento alimentar, de ansiedade e as situações de automutilação. Os comportamentos violentos verificam-se habitualmente entre rapazes”, refere o médico. “Começa-se a ver situações de dependência em redes sociais e videojogos com gravidade relevante. O cyberbullying é uma outra problemática de grande dimensão”, alerta Hugo de Castro Faria.

A saúde mental do adolescente é um dos tópicos mais pertinentes, já que, segundo a Organização Mundial de Saúde, metade dos problemas do foro mental de adultos iniciam-se por volta dos 14 anos, mas a maioria não é detetável ou tratada. A nível mundial, 14% dos adolescentes entre os 10 e os 19 anos sofrem com a sua saúde mental. Nestas e outras situações, pode ser necessário intervir e procurar ajuda médica.

Nem sempre fácil de gerir, a adolescência surge como um período desafiante para os pais e, principalmente, para o próprio adolescente. Mas não se aflija, porque ter um adolescente em casa não é necessariamente sinónimo de problemas e crises constantes. Manter o diálogo aberto e empático com os seus filhos, durante toda a vida, é fundamental para que exista uma relação próxima que lhes permita apoiarem-se na família em todas as fases da vida. E se mesmo assim não o quiserem fazer, isso não é necessariamente um sinal de que algo correu mal. Algumas pessoas são mais introspetivas e reservadas, e esses traços podem definir-se justamente na adolescência.

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