A hidrocefalia é definida como o aumento da quantidade de líquido cefalorraquidiano dentro da caixa craniana, sobretudo nas cavidades ventriculares (podendo registar-se igualmente no espaço subdural).
O líquido cefalorraquidiano (LCR), que envolve o cérebro e a medula espinhal, é produzido nos ventrículos cerebrais e, em circunstâncias normais, entra na circulação sanguínea. Quando, por algum motivo, o líquido não consegue passar normalmente para o sangue e permanece no cérebro, faz aumentar a pressão intracraniana dando origem à hidrocefalia. Muitos fatores, como uma malformação congénita, um tumor ou uma hemorragia cerebral, podem obstruir a drenagem e causar este problema.
A hidrocefalia aparece mais frequentemente nos recém-nascidos, por razões congénitas. Apresentam um perímetro cefálico anormalmente grande (tamanho da cabeça maior do que o normal). Nas crianças mais velhas, a hidrocefalia deve-se, sobretudo, a tumores.
A consequência clínica imediata da hidrocefalia é a hipertensão intracraniana, a qual exige tratamento cirúrgico. A hidrocefalia afeta sobretudo crianças e acarreta, com frequência, sequelas importantes como atraso no desenvolvimento neuro psicomotor.
Ressonância magnética de um homem de 22 anos que sofre de hidrocefalia.A hidrocefalia de pressão normal pode ocorrer igualmente em adultos e pessoas idosas.
Causas da Hidrocefalia
As causas do aumento dos níveis de LCR são:
- Bloqueio do fluxo de LCR (tumores).
- Mal absorção do líquido (pelo sangue).
- Excesso de produção de líquido.
- Mieloncelite (defeito congénito em que a coluna espinhal não fecha adequadamente).
- Defeitos genéticos.
- Infeções durante a gravidez.
Em crianças pequenas, a hidrocefalia pode ocorrer devido a:
- Infeções que afetam o sistema nervoso central (como meningite ou encefalite), especialmente em bebés.
- Hemorragia cerebral durante ou logo após o parto (especialmente em bebés prematuros).
- Lesão antes, durante ou depois do nascimento, incluindo hemorragia subaracnoide.
- Tumores do sistema nervoso central, incluindo cérebro ou medula espinhal.
Sintomas de Hidrocefalia
Os sintomas de hidrocefalia são, sobretudo:
- Saliência das veias do couro cabeludo visivelmente aumentadas ou esticadas.
- Sons anormais quando o médico faz precursão no crânio (o que sugere problemas com os ossos cranianos).
- Dimensões anormalmente grandes da cabeça, sobretudo da parte frontal.
- Olhar perdido e vago.
- Problemas respiratórios.
- Sonolência extrema.
- Dificuldade em comer.
- Febre.
- Choro agudo.
- Batimentos cardíacos anormais.
- Dor de cabeça forte.
- Rigidez da nuca.
- Vómitos.
Os sintomas de hidrocefalia dependem de fatores como:
- Idade.
- Existência de lesão cerebral.
- A causa da acumulação de LCR.
- Em bebés com hidrocefalia, os ossos do crânio ficam salientes e o tamanho da cabeça é maior do que o suposto.
Os sintomas iniciais também podem incluir:
- Olhar para baixo.
- Irritabilidade.
- Sonolência.
- Vómitos.
Em crianças mais velhas, os sintomas podem incluir:
- Choro breve e agudo.
- Mudanças na personalidade, memória ou na capacidade de raciocinar ou pensar.
- Mudanças na aparência facial e espaçamento entre os olhos.
- Estrabismo ou movimentos descontrolados dos olhos.
- Dificuldade em alimentar-se.
- Sonolência excessiva.
- Dor de cabeça.
- Irritabilidade.
- Perda de controlo da bexiga (incontinência urinária).
- Perda de coordenação motora e dificuldade em andar.
- Espasticidade muscular (espasmos).
- Crescimento lento (crianças de 0 a 5 anos).
- Movimentação lenta ou restrita.
- Vómitos.
Tratamento da Hidrocefalia
O diagnóstico realiza-se através de várias medições do perímetro cefálico, repetidas ao longo do tempo, que possam demonstrar o seu crescimento anormal.
A tomografia computorizada do crânio surge como o exame mais adequado para o diagnóstico da hidrocefalia. Pode haver necessidade de recorrer a exames, como:
- Arteriografia.
- Tomografia do cérebro usando radioisótopos.
- Ultrassom craniano e ultrassom cerebral.
- Punção lombar e exame do líquido cefalorraquidiano (raramente feito).
- Raio-X do crânio.
O tratamento passa por criar uma via alternativa de drenagem, de forma a que a pressão cerebral se mantenha dentro dos valores normais.
Até que se coloque um dreno permanente, o tratamento farmacológico (com acetazolamida e glicerol) ou a realização de várias punções para drenar líquido cefalorraquidiano (punções lombares) podem reduzir temporariamente a pressão dentro do cérebro.
O objetivo do tratamento é melhorar o fluxo de LCR, de forma a prevenir ou minimizar danos cerebrais.
A cirurgia pode ser a melhor opção para reduzir o bloqueio.
Caso esta não seja possível, coloca-se um tubo flexível no cérebro – shunt – que visa redirecionar o fluxo de LCR. O shunt drena o LCR para outra parte do corpo, de forma a que este possa ser absorvido como, por exemplo, para zona abdominal. Mesmo que, com o passar do tempo, algumas crianças não venham a necessitar do dreno, habitualmente este não é retirado.
Outros tratamentos podem incluir:
- No caso de haver sinais de infeção, pode ser necessário administrar antibióticos.
- Caso ocorram infeções graves, o shunt pode ter de ser removido. O shunt pode entupir devido a infeções nas áreas adjacentes, mau posicionamento ou deslocação do tubo.
- Remoção ou cauterização das partes do cérebro que produzem LCR.
A hidrocefalia pode acarretar complicações como:
- Complicações devido à cirurgia.
- Infeções como meningite ou encefalite.
- Défice intelectual.
- Lesões nervosas (diminuição dos movimentos, sensibilidade, função).
- Incapacidade física.
Seis em cada dez pessoas com hidrocefalia morrem, caso não sejam submetidas a nenhum tratamento. As poucas que sobrevivem revelam níveis importantes de incapacidades intelectuais, físicas e neurológicas.
O prognóstico da hidrocefalia depende da sua causa. A hidrocefalia que não ocorre devido a uma infeção tem um prognóstico mais favorável, enquanto que a hidrocefalia devida a um tumor tem, habitualmente, um prognóstico mais reservado.
Hidrocefalia de Pressão Normal (HPN)
A Hidrocefalia de Pressão normal é uma patologia caracterizada pela tríade de sintomas que inclui demência, incontinência urinária e distúrbio de marcha. A demência encontra-se associada ao envelhecimento e constitui-se como a perda ou a redução progressiva das funções cognitivas que incluem: memória, linguagem, atenção, habilidades construtivas, resolução de problemas, etc.
Causas da Hidrocefalia Normal
A HPN é provocada por um distúrbio da circulação do líquor (líquido cefalorraquidiano que protege e irriga o sistema nervoso central) porque não é reabsorvido corretamente ou porque apresenta dificuldade de circulação.
A HPN é geralmente diagnosticada entre os 60 e os 70 anos. Acredita-se que o diagnóstico desta doença se encontre subestimado e que, muitos doentes diagnosticados com doença de Alzheimer, Parkinson ou outras demências, sofram na verdade, de Hidrocefalia de Pressão Normal.
Sintomas da Hidrocefalia Normal
- Deficiência progressiva da memória.
- Instabilidade para caminhar.
- Dificuldade na retenção da urina.
Tratamento da Hidrocefalia Normal
O diagnóstico da HPN não é fácil. Além do quadro clínico e de um bom exame de imagem, como a Ressonância Magnética Nuclear, podem ser necessários exames funcionais, como a Cisternocintilografia e o Tap Test. O Tap Test é um exame realizado através da drenagem de líquor pela punção lombar (são extraídos cerca 30 ml de líquor, de acordo com um procedimento realizado com anestesia local).
O correto diagnóstico da doença é muito importante, uma vez que os doentes com HPN apresentam indicação de cirurgia para correção do distúrbio.
A cirurgia mais tradicional é a derivação ventrículo-peritoneal. Contudo, a ventriculostomia endoscópica tem ganho terreno, uma vez que não exige a implantação de nenhum corpo estranho no organismo do doente.
Artigo revisto e validado pelo especialista em Medicina Geral e Familiar José Ramos Osório.

Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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