Inteligência Emocional: a arte de reconhecer emoções

Quotidiano
Última atualização: 17/08/2022
  • A inteligência emocional define-se como a capacidade de compreender e lidar com as emoções presentes no nosso quotidiano, que se revela importante no contexto laboral e escolar.
  • É possível melhorar a inteligência emocional, através de sessões de terapia junto de um especialista, sendo que, no entanto, o primeiro passo deverá sempre ser dado pela própria pessoa que procura esta melhoria

Inteligência Emocional é a capacidade de reconhecer e avaliar os nossos próprios sentimentos e os dos outros. Dito desta forma, parece algo dado como adquirido para qualquer indivíduo, mas não é bem assim que acontece, até porque, se assim fosse, não era objeto de estudo desde os tempos de Charles Darwin, o primeiro a referir na sua obra a importância da expressão emocional para a sobrevivência.

Atualmente a questão não se foca na relação entre a sobrevivência e a inteligência emocional, mas não deixa de ser reconhecida a importância da adaptação aos outros como essencial para viver em comunidade. “Sempre que conhecemos alguém, seja para uma relação de amizade ou até um namorado, essa pessoa traz uma bagagem”, começa por explicar a psicóloga Sandra Caetano. É por isso essencial, de acordo com a especialista, ter a capacidade de ceder, de estar disponível. “A isso chama-se empatia”, esclarece.

Sandra Caetano acredita que essa capacidade de lidar com as emoções está dentro de cada um, mas tem de ser trabalhada. “Tenho de ter a capacidade de saber se algo me causa sensações positivas e negativas e tenho que saber também como é que o meu comportamento afeta o outro”, esclarece.

Tema cada vez mais atual

Longe vão os tempos em que tudo era medido com base na inteligência. “Felizmente percebeu-se que há muito a explorar além do QI”, lembra Sandra Caetano. De acordo com a MENSA International, uma sociedade cujos membros são as pessoas com o QI mais elevado do mundo, esta medida define-se como a medida de quociente de capacidade mental e inteligência, obtido através de um teste, sendo o valor da sociedade geral igual a 100. O psicólogo Daniel Goleman, autor do livro Inteligência Emocional e considerado um dos maiores especialistas do mundo nesta área, propõe um modelo complementar ao QI – denominado QE, ou Quociente de Inteligência Emocional. “Está mais do que provado que nem sempre as pessoas com um QI elevado são melhores líderes ou são mais produtivos”, explica a psicóloga, “e muitas vezes têm problemas de relacionamento com os colegas, exatamente por lhes faltar a capacidade de reconhecer e gerir emoções e sentimentos”. Embora seja algo mais dificilmente avaliado do que a inteligência “habitual”, uma revisão recente aborda as múltiplas formas de medir e classificar a inteligência emocional, destacando os testes baseados na habilidade (aqueles que utilizam medidas semelhantes aos testes de QI, como desafios que têm de ser resolvidos) ou traços (que utilizam respostas de avaliação pessoal, como escolhas múltiplas que avaliam a reação a situações específicas) de cada pessoa, bem como modelos que incluem ambas as medidas.

O reconhecimento da importância da parte emocional em contexto laboral é apontado por Sandra Caetano como uma das razões para que este tema se tenha tornado tão relevante nas últimas décadas. A outra razão está relacionada com a ligação entre a saúde física e mental. “Situações tão comuns como o stress, ou mesmo depressão, estão relacionadas com o lado emocional, ainda que tenham repercussões na parte física”, lembra. Para a especialista, “infelizmente”, a saúde mental tem sido o parente pobre da medicina e só mais recentemente se tem dado a importância devida. O burnout, conceito que surgiu em 1974, está intrinsecamente ligado à capacidade de gestão de stress e ansiedade no contexto laboral, estando associado ao excesso de trabalho, falta de descanso e incapacidade de gerir emocionalmente a carga que o seu trabalho gera a nível psicológico.

É sempre possível melhorar

Apesar de acreditar que esta capacidade de gerir emoções é inerente ao ser humano, Sandra Caetano reconhece que existem pessoas com mais dificuldade em saber pôr isso em prática no dia a dia. “Mas isso trabalha-se”, garante. A terapia, a psicologia e o coaching são apontados como a solução, ainda que acredite que o primeiro passo tem de ser dado pelo indivíduo. “É importante que a pessoa pare para pensar e esteja disponível para enfrentar os seus medos, algo que acontece sempre que falamos de emoções”, explica. Aos pacientes que recebe no seu gabinete, a psicóloga costuma dizer que não é possível recorrer à terapia para mudar sem se querer mudar realmente. “Não é um trabalho que vem do médico, parte de cada paciente”.

Inteligência emocional em contexto escolar

Por trabalhar como psicóloga numa escola secundária, Sandra Caetano está consciente da importância de gerir emoções em contexto escolar. “Não falo aqui só dos alunos, mas sim de toda uma comunidade feita de alunos sim, mas também de professores, pais e funcionários”, salienta.

Reconhece que, apesar de ver cada vez mais abertura para estas questões, ainda existe muita escassez de meios nas escolas, que deviam ter sempre equipas de psicólogos e assistentes sociais disponíveis. “Lidamos hoje em dia com problemas complexos, novos conceitos de família, por exemplo. É importante que as crianças saibam lidar com as emoções que tudo isso acarreta”, garante. Caso isso não aconteça, a especialista considera que casos de mau comportamento ou mau aproveitamento escolar continuarão a ser comuns.

Igualmente, poderá ser possível o desenvolvimento de condições como a ansiedade, que são cada vez mais comuns nas crianças em idade escolar. Um estudo recente salienta que a inteligência emocional pode ser um fator preditivo de casos de depressão ou isolamento, e que estratégias para identificar e ajudar crianças em risco podem ser medidas importantes para promover a expressão de emoções e reduzir o impacto ou a duração de patologias do foro mental nestas crianças.

Sandra Caetano tem por hábito dizer aos jovens que a escola “não é só matemática”. Não descura a importância da aprendizagem de conteúdos, mas há toda uma parte relacionada com a relação interpessoal que não pode ser esquecia. “Essa sim é uma escola”, conclui.

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