Mitos e verdades sobre o consumo de água e a saúde renal

Saúde e Medicina
Quotidiano
Última atualização: 28/05/2025
  • A hidratação é crucial para a saúde dos rins, mas ainda há dúvidas sobre o seu papel na prevenção da doença renal.
  • Mitos e desinformação sobre o consumo de água estão a pôr em risco a saúde renal de muitas pessoas.
  • Saber a verdade sobre quanta água devemos beber diariamente pode ajudar a evitar problemas renais no futuro.
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Beber água na medida certa faz bem aos rins, mas em excesso pode ser prejudicial, sobretudo para quem já tem problemas renais.

A saúde renal em Portugal é uma preocupação significativa de saúde pública, com o país a apresentar uma das mais elevadas taxas de doença renal crónica (DRC) e de diálise da Europa e do mundo.

A prevalência da DRC está consideravelmente acima da média europeia, existindo disparidades regionais e socioeconómicas acentuadas em termos de cuidados e resultados.

A prevalência da DRC em adultos situa-se entre 9,8% e 20,9%, sendo mais comum em idosos e pessoas com hipertensão, diabetes ou obesidade. Entre 2010 e 2016, a taxa de doentes em diálise aumentou de 998 para 1286 por milhão de habitantes.

Além disso, o diagnóstico tardio e a falta de conhecimento público sobre os rins e a sua função agrava este problema, especialmente entre pessoas com menor literacia em saúde ou acesso a cuidados de saúde.

De que forma é que a hidratação influencia a saúde dos rins?

A água é essencial para a vida e especialmente relevante no funcionamento adequado dos rins. Estes órgãos filtram cerca de 180 litros de sangue por dia, eliminando toxinas e regulando o equilíbrio de líquidos e eletrólitos no organismo.

Uma hidratação adequada:

  • Dilui sais e minerais , prevenindo a formação de cálculos renais (pedras nos rins).
  • Reduz o risco de infeções urinárias , ajudando a eliminar bactérias.
  • Diminui a secreção de vasopressina (hormona antidiurética), o que reduz a carga de trabalho dos rins, protegendo-os contra lesões.

Portanto, de um modo geral, pode concluir-se que uma ingestão adequada de água é de extrema importância para a saúde, prevenindo doenças e garantindo um desempenho físico e mental ideal. As necessidades individuais variam, mas manter a hidratação deve ser uma prioridade diária para todos.

Qual é a quantidade de água ideal que se deve beber diariamente?

Já vimos que o consumo diário de água é essencial para preservar uma boa saúde renal, mas como saber qual a quantidade ideal exata para cada pessoa?

A quantidade de água pode variar bastante de acordo com as necessidades individuais, a idade e o estado de saúde.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto de Hidratação e Saúde (IHS) recomendam o consumo de 1,5 a 2 litros de líquidos por dia, preferencialmente água. Sendo que as orientações internacionais para a ingestão de água total diária para a maioria dos adultos saudáveis costuma situar-se entre os 3,7 L/dia para os homens e 2,7 L/dia para as mulheres, incluindo todos os líquidos, bem como a água presente nos alimentos.

Assim, estas quantidades serão suficientes para que a maioria dos adultos mantenha uma hidratação e saúde renal ideais.

Mitos

Beber mais água é sempre melhor

O consumo excessivo de água não traz benefícios adicionais e pode ser perigoso para pessoas com DRC, especialmente em estadios mais avançados. Estudos indicam que existe uma relação em forma de U entre ingestão de água e saúde renal, ou seja:

  • Pouca água = maior risco de desidratação e lesão renal.
  • Demasiada água = sobrecarga dos rins, risco de hiponatremia (quando os níveis de sódio no sangue estão muito baixos) e potencial agravamento da função renal em alguns doentes.

Portanto, tanto uma ingestão muito baixa como muito elevada de água pode ser prejudicial para doentes renais.

A hidratação previne todas as doenças renais

Uma maior ingestão de água aumenta o fluxo e a diluição da urina, o que ajuda a prevenir os cálculos renais e pode reduzir a recorrência de infeções do trato urinário.

Contudo, não há evidência científica robusta de que beber mais água previna ou retarde a progressão de todas as formas de doença renal crónica.

Ao reduzir a secreção de vasopressina, o aumento da ingestão de água pode ter um efeito benéfico em pessoas com risco de DRC. Contudo, este potencial benefício da hidratação pode ser bastante relevante quando o rim ainda é capaz de concentrar a urina, sendo por exemplo contraindicado em doentes dependentes de diálise.

Ter sede é um indicador fiável

A sede por si só nem sempre indica uma hidratação ideal, especialmente em idosos ou pessoas com doenças crónicas. A melhor forma de avaliar a hidratação é:

  • Observar a cor da urina (idealmente amarelo-claro).
  • Notar a frequência urinária.
  • Estar atento a sintomas como fadiga, dor de cabeça ou tonturas.

A regulação da hidratação depende de vários mecanismos internos que detetam variações no nível de água, ativando a sensação de sede. Contudo, com a idade, o centro da sede no cérebro torna-se menos sensível, levando a que os idosos sintam menos sede. Para além de que com a idade também a capacidade dos rins para concentrar a urina e conservar água fica diminuída. Sendo particularmente importante seguir as recomendações de hidratação nesta faixa etária, independentemente, de se sentir sede.

No entanto, os doentes com outras comorbilidades podem ver este mecanismo de regulação da sede alterado. Por exemplo, na diabetes mellitus, a hiperglicemia pode causar desidratação devido à perda de água pela urina, afetando a resposta à sede nestes doentes. Doentes com demência, com DRC ou doentes que estejam medicados com diuréticos ou anti-hipertensores são especialmente vulneráveis à desidratação.

Beber água mineral, com mais sais, causa pedras nos rins

A água mineral não é uma causa direta de pedras nos rins. Embora a água mineral contenha sais minerais naturais (como cálcio, magnésio e sódio), isso não significa que leve necessariamente à formação de cálculos renais. O risco de formação de cálculos é influenciado por fatores como a fisiologia individual, os hábitos alimentares, os níveis gerais de hidratação e a presença de condições subjacentes.

A verdade é que manter uma hidratação adequada é crucial para prevenir as pedras nos rins. Manter-se hidratado ajuda a diluir a urina, diminuindo a concentração dos sais e promovendo a sua remoção, reduzindo-se o risco de formação de cálculos renais. A água mineral pode até contribuir com alguns minerais úteis.

No entanto, é importante salientar que nem toda a água mineral é igual: algumas têm teor elevado de sódio, o que pode aumentar a pressão arterial e ser prejudicial para quem tem DRC, hipertensão ou insuficiência cardíaca.

Para a maioria das pessoas, a água da torneira ou de baixo teor mineral é suficiente para manter uma hidratação segura e eficaz. Ao optar-se por água mineral deve escolher-se uma que apresente elevado teor de magnésio e bicarbonato, as quais parecem demonstrar benefícios na prevenção os cálculos de oxalato de cálcio.

O mais importante é garantir-se que a água consumida seja potável e controlada pelas autoridades de saúde.

A moderação na hidratação é a chave para a saúde renal

A água é uma aliada essencial na saúde dos rins, mas nem tudo o que se ouve é verdade. Neste caso, a ideia de que "mais é sempre melhor" é um mito, porque a verdade é que a moderação é fundamental, sobretudo para quem tem doença renal.

A hidratação:

  • É fundamental para prevenir cálculos e infeções urinárias;
  • Pode ajudar a retardar a progressão da DRC em certos contextos;
  • Não deve ser excessiva, especialmente em pessoas com problemas renais.

Não perpetuar estes mitos sobre o consumo de água é mesmo essencial para melhorar a saúde renal em Portugal.

Manter uma hidratação adequada é importante, mas a ingestão ideal pode variar de acordo com o estado de saúde individual. Para mais informações, consulte o nosso serviço Care&Go: Consultas de nutrição.

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