- É natural que as recém-mamãs sintam algumas dificuldades na amamentação. Contudo, estas podem ser facilmente ultrapassadas.
- Amamentar protege o bebé contra infeções e fortalece o seu sistema imunitário, estimula o vínculo e beneficia também a saúde da mãe.
- Começar bem — com pega correta e amamentação na primeira hora após o parto — previne complicações.
- Ingurgitamento mamário, ductos bloqueados, mastite e fissuras são comuns, mas podem ser evitados.
- Com apoio e preparação, a amamentação pode ser uma experiência positiva e tranquila.

Amamentar é um gesto de amor que traz inúmeros benefícios, mas é também um momento mais delicado, onde pequenas dificuldades podem surgir. Descubra neste artigo toda a informação e apoio prático para viver este período com mais tranquilidade, confiança e prazer.
Amamentar é muito mais do que um ato nutricional
A chegada de um bebé é um momento transformador. Entre fraldas, noites curtas e muitos afetos, uma das decisões mais importantes que uma mãe pode tomar é a forma como irá alimentar o seu filho. A amamentação é muito mais do que um ato nutricional: é um encontro íntimo entre mãe e bebé, um vínculo que se constrói pele a pele, olhar a olhar. Mas nem sempre é um percurso fácil para algumas mães que podem sentir-se sozinhas, confusas ou até desmotivadas perante dificuldades inesperadas.
De acordo com o Comité Português para a Unicef - Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés, mais de 90% das mães portuguesas iniciam a amamentação. No entanto, estudos indicam que quase metade abandona durante o primeiro mês de vida do bebé, muitas vezes por falta de apoio, informação ou acompanhamento adequado. Globalmente, apenas 44% dos bebés são amamentados na primeira hora após o parto e 40% recebem aleitamento exclusivo até aos seis meses de vida, segundo a Unicef e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estes dados revelam uma lacuna entre o desejo de amamentar e a capacidade real de o fazer com sucesso.
Benefícios da amamentação
O leite materno é um alimento completo, vivo e dinâmico. É adaptado às necessidades de cada bebé, em cada fase do seu crescimento. A Unicef e a OMS são unânimes quando dizem que a amamentação adequada — iniciada na primeira hora de vida, mantida de forma exclusiva até aos seis meses e continuada até aos dois anos ou mais — poderia evitar mais de 820 mil mortes anuais de crianças menores de cinco anos.
Com efeito, conforme informação do Portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a amamentação protege contra infeções gastrointestinais, respiratórias e urinárias, previne alergias, reduz o risco de obesidade infantil e diabetes tipo 2 e contribui para o desenvolvimento neurológico e emocional do bebé. Crianças amamentadas têm menos episódios de diarreia e infeções respiratórias e apresentam maior desempenho cognitivo em idade escolar.
Para a mãe, os benefícios são também expressivos: a amamentação favorece a involução uterina, reduz o risco de hemorragias pós-parto e está associada a uma menor probabilidade de desenvolver cancro da mama, dos ovários e diabetes tipo 2. Está igualmente associada a menor risco de depressão pós-parto, melhor qualidade do sono e maior sensação de bem-estar, graças à libertação de ocitocina durante as mamadas.
A mais recente atualização do documento conjunto da OMS e Unicef sobre a Baby-friendly Hospital Initiative (Iniciativa Hospital Amigo dos Bebés) refere ainda que ao nível económico e ambiental, o impacto é igualmente positivo: o leite materno é gratuito, está sempre disponível, não necessita de esterilização nem embalagens, e evita os custos associados à compra de leite artificial, consultas médicas ou hospitalizações por doenças evitáveis.
Como começar?
O início da amamentação é uma fase sensível, muitas vezes marcada por dúvidas e inseguranças. No entanto, existem estratégias simples que podem fazer toda a diferença.
As entidades oficiais, nomeadamente a OMS, recomendam o início da amamentação na primeira hora após o nascimento. Este contacto precoce, preferencialmente pele a pele, não só favorece a libertação de hormonas essenciais como estimula a pega do bebé e a subida do leite. No entanto, a prática hospitalar nem sempre favorece esta transição. Separações desnecessárias, rotinas clínicas desatualizadas ou falta de orientação podem interferir negativamente neste processo.
A Comissão Nacional da Iniciativa Hospital Amigo dos Bebés, no seu Manual de Aleitamento Materno, propõe, sempre que possível, o nascimento do bebé numa maternidade com acreditação Baby Friendly Hospital, pois estas seguem os Dez Passos para o Sucesso da Amamentação, de forma a garantir um início seguro e eficaz da amamentação. A importância de informar todas as grávidas sobre os benefícios do aleitamento, ajudar a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto, e garantir alojamento conjunto entre mãe e bebé são alguns dos passos fundamentais.
Por outro lado, uma boa pega é fundamental. O bebé deve abocanhar não apenas o mamilo, mas grande parte da aréola, com o queixo encostado à mama e os lábios voltados para fora. A sucção deve ser ritmada e profunda, sem dor para a mãe. Se a pega estiver incorreta, pode surgir dor, fissuras, ingurgitamento ou produção insuficiente de leite.
Amamentar deve ser confortável. Se não o for, é sinal de que algo pode ser ajustado — e vale sempre a pena pedir ajuda. Enfermeiros, pediatras, consultores de lactação e linhas de apoio como a do SNS 24 estão preparados para orientar e esclarecer.
Como ultrapassar ou prevenir dificuldades?
Mesmo quando a motivação é grande, podem surgir alguns obstáculos inesperados. A boa notícia é que a maioria destas dificuldades pode ser prevenida ou resolvida com pequenas correções, de acordo com as orientações do SNS, da Unicef e da Comissão Nacional da Iniciativa Hospital Amigo dos Bebés, que a seguir descrevemos.
Ingurgitamento mamário
O que é: Ocorre quando as mamas ficam excessivamente cheias, tensas, quentes e dolorosas. Pode dificultar a pega e levar ao bloqueio dos ductos.
Prevenção:
- Amamentar com frequência e sem horários rígidos (regime livre/livre demanda).
- Evitar longos intervalos entre mamadas, sobretudo nas primeiras semanas.
- Garantir uma pega eficaz e alternar as mamas entre a mamada.
Se acontecer:
- Aplicar compressas mornas antes da mamada para facilitar o fluxo de leite.
- Massajar suavemente a mama na direção do mamilo.
- Amamentar frequentemente ou extrair manualmente um pouco de leite para aliviar a tensão.
Bloqueio dos ductos
O que é: Um ou mais canais de transporte do leite ficam obstruídos, formando um caroço doloroso.
Prevenção:
- Garantir que a mama fica bem esvaziada em cada mamada.
- Usar diferentes posições para facilitar a drenagem.
- Evitar roupas apertadas e pressão direta sobre as mamas.
Se acontecer:
- Aplicar calor local e massajar antes da mamada e durante a mamada.
- Amamentar primeiro na mama afetada.
- Manter o aleitamento, mesmo que haja desconforto.
Mastite
O que é: Inflamação da mama, que pode evoluir para infeção. Manifesta-se com dor intensa, vermelhidão, febre e mal-estar geral.
Prevenção:
- Tratar de imediato qualquer bloqueio.
- Evitar a estagnação de leite e a pressão contínua sobre a mama.
Se acontecer:
- Continuar a amamentar, pois o esvaziamento ajuda na recuperação.
- Procurar assistência médica, podendo ser necessário antibiótico.
- Descansar e manter-se bem hidratada.
Fissuras mamilares
O que são: Gretas ou feridas no mamilo, geralmente causadas por má pega ou fricção excessiva.
Prevenção:
- Corrigir a pega do bebé e variar posições.
- Evitar retirar o bebé bruscamente da mama — introduza um dedo no canto da boca antes.
- Hidratar o mamilo com leite materno após a mamada.
Se acontecer:
- Amamentar primeiro na mama menos dolorosa.
- Em casos graves, usar protetores de mamilo ou recorrer à extração manual temporária.
- Procurar apoio especializado.
A prevenção de dificuldades na amamentação passa por informação rigorosa, por cuidados hospitalares adequados, por um ambiente de confiança e por uma rede de apoio sólida.

Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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